quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Confissões da Paternidade I – Meu amigo, José.

Aqui, um texto da série "Confissões da Paternidade". O primeiro deles. Escrito em 2004.

O "Mensalão" ainda não era manchete...

E a tal "coalizão" não existia.

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Confissões da Paternidade I – Meu amigo, José.


Das histórias mais horripilantes que nossa memória poderia lembrar, sobre paternidade fresca, estariam as fraldas. Somos de um tempo, quase todos somos, em que a fralda descartável era ficção científica ou novidade para poucos e abastados. Ou, as fraldas descartáveis viviam um período experimental e todos nós devemos desconfiar do que experimentalismo significaria nesta área tão delicada e barulhenta....

Pois bem, as histórias nos diziam coisas medonhas, como ter que colocar os panos utilizados para refrear o ímpeto dos pequenos, em grandes panelas com água no fogão, para esperar, pacientemente, que a água quente e borbulhante desencralacrasse o cocô impregnado em todas as vísceras daquele tecido. Sem contar as manchas nas roupas, as manchas no tapete, as manchas no berço e o infinito de manchas que nossa imaginação pode conceber.

Hoje em dia, hoje em dia não! A tecnologia “fraldísdica” avançou e com ela fraldas que andam sozinhas, com gel absorvente, formato anatômico e um bebê seguro, sequinho e limpinho. Propaganda de fralda na tevê mostra sempre os pimpolhos dormindo o sono dos anjos e aquele sorrisão na face corada dos jovens pais, seguros e livres do inferno das manchas amareladas pelo resto de suas vidas.

E tem mais! Saindo da maternidade o casal está um pouco intranquilo, com receios e com dúvidas de como administrar o novo integrante familiar. Imagine se, acoplado a estes valores, a insegurança das fraldas...

Ora, isto é impossível, pois a tecnologia atual é movida a poderosos géis absorventes, vindos da NASA.

Entretanto, amigas, amigos.... as fraldas vazam. Elas vazam loucamente e as manchas voltam com força total. A cada mamada, uma troca. De fralda e de roupa. As fraldas vazam o xixi e o cocô. Vazam e é uma beleza. Uma beleza no tapete, no trocador, na roupinha nova do nenê, na roupa velha do papai e na roupa da mamãe, que nunca sabemos se é nova ou velha pela infinidade de peças no guarda roupa.

E deste cenário traço uma interessante parábola com a governabilidade. Sigam o raciocínio: Ganha-se o poder e vamos ter que administrar a governabilidade. Como a roda está pronta, a receita é fácil. Uma composição aqui e outra acolá e pronto. Mas, sempre tem um mas, e nossa coerência ideológica? Aqui entram as fraldas. As fraldas vem em forma de discurso: “Não tem problema, pois a hegemonia do governo é nossa. Os postos chaves estão conosco. A composição é necessária, não se faz um bom omelete sem quebrarmos alguns ovos.” E colocam, ainda, um gel absorvente poderoso: “Vocês não tem confiança no nosso programa?”

Desta cantilena, surge a questão que me paralisou, entre uma troca e outra: E se a fralda vazar?
Nos bebês, sabemos, paciência e recomeço da higiene. Um algodão aqui, outro ali. Depois, troca-se e tudo perfeito. Sabemos, também, que fralda suja e roupa suja espalham o conteúdo. O conteúdo, se não cuidado com esmero, infecciona, dá assadura, pode trazer malefícios aos milhares à saúde infantil. Pergunto: e a governabilidade? Teremos paciência para recomeçar ou nos acostumamos com o conteúdo?

Deixe-me ir... tem um choro vindo pelo corredor.

2 comentários:

Denise Carceroni disse...

Fê, meu querido!!! Quanta satisfação
Fralda suja? Pior é quando a merda escorre por entre os dedos e não sabemos por onde começar a limpar...quando acontece com o bebê na pior das hipóteses uma chuveirada resolve...e na política? Como faz????
Oba! Mais um cantinho pra eu visitar!!!
Passe nos meus também:
www.fiqueinforma.com
www.criandocriancas.blogspot.com
Beijinho no seu coração!

Vivi disse...

Nunca tinha visto as fraldas por esta visão. Mas dizem que ser mãe é padecer no paraíso. Provavelmente o autor da frase vivia na época das fraldas descartáveis. Coitada da minha mãe, lavou muita fralda de pano.
Parabéns pelo blog!